REGANDO O PÉ DE DINHEIRO. (Por Jacob Fortes).
Raimundo Carvalho, o Raimundinho, de apenas quatro anos, residida com os pais, José e Luiza, num recesso agrário, às margens da Lagoa do Curralinho. Por
aqueles tempos, em que a aparição de dinheiro constituía espanto ou
produzia flagrantes de curiosidade, as práticas mercantis se regulavam
por uma usança cardeal: o escambo. Despossuído de pecado, Raimundinho, o
primogênito, crescia introjetando no seu armarinho o modus vivendi
da sua tribo (de ralos habitantes) e do seu ambiente: costumes,
vernaculismo, práticas agrícolas, enfim, os instantâneos sertanejos.
Certa
feita, em pagamento por algumas sacas de grãos, José recebeu o
improvável: dinheiro em espécie; o guardou em local aparente. Porém, não
tardou para o numerário desaparecer. A circunstância fez José mergulhar
em turbilhão de cogitações acerca do local exato onde teria posto o
efetivo e quem o teria subtraído. Tempo decorrido José percebeu que
Raimundinho habituara-se a urinar prazenteiramente no mesmo lugar.
Inquirido do motivo de verter somente naquele local, Raimundinho
declarou que era para regar o pé de dinheiro que ali havia plantado,
(reproduziu as práticas agrícolas do pai). O gesto de Raimundinho, tão estúrdio quanto engraçado, fez descontinuar a vexação do pai; aliviou-se por haver encontrado o tesouro terreal perdido.
Descanse
em paz, meu irmão, no tesouro celestial que Deus lhe reservou. Se
permissão houver, rogue a Deus por nós, pecadores deste mundo. Pelos
seus livros agrícolas o agradecimento dos seus leitores. De lembrança e
saudade cá ficamos, os seus!
Raimundo Nonato Carvalho faleceu recentemente em Brasília-DF, onde morava há algumas décadas. |
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