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quarta-feira, 13 de março de 2019

A Batalha do Jenipapo

"Não há em toda a luta pela Independência no Ceará, nesta Província e na do Maranhão, uma página mais pavorosamente grandiosa que a da batalha do Jenipapo - a mais importante das que foram feridas."

"...o Capitão Luis Rodrigues Chaves sabendo que não podia esperar nenhum auxílio da Junta governativa e sabendo que o inimigo estava próximo, chamou todos homens válidos da vila e termo, arregimantara-os e patenteara-lhe o perigo próximo."

"...O povo esteve acima de qualquer expectativa. Cada um, o vaqueiro e o roceiro, foi mais pronto em alistar-se para o tributo de sangue. ... dentro de três dias, as fileiras engrossaram-se e uma numerosa multidão ficou à espera dos portugueses para o combate."

"E assim que perto de dois mil homens, vibrando num entusiasmo ruidoso, expansivo como quem volta de um triunfo, acudiram à chamada e formaram em frente à Igreja de Santo Antônio."

...Os soldados do Capitão Luis Rodrigues Chaves, com os que haviam abandonado o Tenente-Coronel José Antônio da Cunha Rabelo, com os de Alecrim e do Capitão Nereu, elevando-se a pouco mais de 500, não podiam dar a consciência precisa à totalidade do corpo. 

"... E só a loucura patriótica explica a cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidié quase desarmados. "

"As poucas espingardas tinham sido distribuídas aos cearenses. Os piauienses, estes conduziam velhas espadas, facões, chucos, foices. De nada valia, contudo, para eles a falta de armas tão sugestionados iam com a certeza do triunfo. Ninguém pensava, aliás, na possibilidade de morrer. Todos sonhavam a glória do regresso à vila conduzindo algemado o chefe do exército, à frente da turbamulta sem fim dos prisioneiros
E neste entusiasmo surgira o dia do encontro. Era 13 de março (1823). "

"Véspera, ainda, soubera-se que Fidié pernoitara nas vizinhanças, e ninguém mais descansara. ...Dividia em grupos, fazia a força planos de valentia..."

"Amanhecia quando a tropa, formada em frente à igreja, recebeu ordem de marchar e seguiu para o rio Jenipapo, que forçosamente seria vadeado pelos portugueses."


"O terreno, ali, é geralmente, plano: apenas de longe em longe uma colina quebra a monotonia da várzea, aberta, sem um amparo. Nas margens do rio, entretanto, tufam-se reboleiras de mofumbos e arbustos."

"Os brasileiros ocultaram-se no próprio leito do rio, que estava seco em consequência da falta de chuvas. Nem todos, porém: muitos se esconderam nos mafumbais das ribanceiras."

"Nas proximidades da margem direita, bifurca-se a estrada em duas. Alecrim e Chaves guardariam ambas para evitar a hipótese de passar Fidié sem ser percebido. Por qualquer lado, encontraria os separatistas que, oportunamente, haviam de rechaçá-lo. E assim concertado o plano, daria, talvez, algum êxito, se o acaso não tivesse vindo em favor de Fidié, que, no ponto da bifurcação, dividiu as forças em duas alas. Uma, a em que estava a cavalaria, seguiu pela estrada da direita;a outra, que guardava a artilharia e era comandada por Fidié, em pessoa, seguiu pela estrada da esquerda. "

"Foi a cavalaria que se encontrou, logo, com os brasileiros, sobre os quais tentou uma carga, impedida pela forte fuzilaria dos cearenses. "

"Não convindo,porém, aos portugueses um ataque mais sério, porque não podiam dirigir-se com segurança e ignoravam o número dos atacantes, retrocederam e fugiram. "

"Ouvindo os tiros, pensaram os brasileiros, na esquerda, que os da estrada da direita se estavam batendo com todas as forças portugueses e abandonaram precipitadamente  seu posto, correndo em auxílio dos companheiros. Mas, ali, não havia nada que fazer, porque a Cavalaria desaparecera."

"Deviam persegui-la? Enquanto deliberavam, passou Fidié o Jenipapo com o exército, escolheu lugar, dispôs a Artilharia, distribuiu linhas de caçadores, tomou, enfim, todas as medidas aconselhadas pelas circunstâncias. E ainda se deliberava no campo adverso, quando constou que o inimigo atravessara o rio."

"Fidié podia ter marchado contra a vila, de que tomaria conta sem disparar um tiro. Poderia, também, sabedor da presença dos brasileiros na estrada próxima, ter ido desalojá-los. Nâo o fez. O encontro devia ser decisivo. Não o demorou. E, para mais certo êxito, esperou o ataque, cercado de todas as vantagens de quem nas suas condições, assume a posição defensiva."

"Sabendo-o, ali, porém, foram os brasileiros tomados de surpresas, - surpresa logo substituída pelo velho entusiasmo. Não racionaram. Não atenderam à voz do comando. Partiram numa carreira precipitada, só estacando ao defrontar o belicoso e soberbo aparato dos portugueses."

Diante da desigualdade de forças, os brasileiros tentaram atacar os portugueses por todos os lados, por várias vezes foram repelidos com grande perda de vidas.

"A fuzilaria e as peças varriam o campo. Que podiam fazer, armados de chuços e foices, espadas e facões, espetos e espingardas velhas, contra a artilharia e o armamento novo do chefe lusitano? Muitos vieram morrer à boca das peças, com um desamor pela vida, que pasmava os soldados, pouco afeitos a semelhantes atos de heroismo!"

"E o cansaço dominou-os primeiro que a consciência da derrota...
Somente às 2 horas da tarde, contudo - e a batalha tivera princípio às 9 horas da manhã-começou a retirada, em desordem, sem grande prejuízo, aliás, porque Fidié não mandou perseguir os fugitivos. Nem seus soldados estavam em condições de obedecer a essa ordem, depois de cinco horas de combate ininterrupto, ao sol ardente..."

"Não se sabe, ao certo, o número dos mortos que tiveram os portugueses, porque Fidié reuniu os cadáveres em cinco sepulturas e não os enumerou ... Quanto aos brasileiros, afirma, categoricamente, que deixaram no campo 542 prisioneiros, mais de 200 homens, entre mortos e feridos, uma peça de artilharia calibre 3, uma bandeira e 3 caixas de guerra."

Fidié precisava abandonar o campo de luta e ocupar a vila antes que os fugitivos o fizessem. Quando já se punham em marcha, foi informado de que parte de sua bagagem de guera havia sido roubada (munições, armas, dinheiro e despojos da vila de S. João da Parnaiba). 

Impedido de marchar contra Oeiras, Fidié seguiu para Campo maior e abarracous-se na fazenda Tombador. Criando um terror pânico entre os locais, principalmente entre as mulheres e crianças. Fonte: A Guerra do Fidié, Abdias Neves.