domingo, 27 de julho de 2014

DA EXALTAÇÃO À MELANCOLIA. (por Jacob Fortes).

Ainda ecoa pelo país afora, sobretudo nos meios urbanos, a retumbante derrota da seleção canarinho para os alemães. A derrota — que ocasionou sentimentos de tristeza, indignação e fez prantear a muitos — chegou a ser adjetivada por alguns como assombrosa: colisão entre feitos do passado e o fracasso do presente cuja avaria principal consistiu em murchar não apenas a bola, mas o ufanismo nacional.


Aos que, movidos pela paixão do futebol, prantearam a derrota do seleto time, ressalto que neste Brasil, recheado de brasis, há razões muito maiores para estear, senão o pranto, a indignação profunda. Evidentemente refiro-me à indignação daqueles que não pensam apenas em si, que não pensam apenas neste ou naquele esporte, mas no país como um todo. Essas razões não precisam ser elencadas de modo cabal. Basta olhar o diário da TV: violência urbana demarcada pela pena de morte decretada pelos celerados; a deplorável situação dos hospitais públicos; o transporte, nas grandes metrópoles, onde os trabalhadores são submetidos ao calvário de viajar, por longas horas, em trens e ônibus sucateados, comprimidos aos moldes de vagões boiadeiros.
No “país do futebol”, o orgulho maior de ser brasileiro não está, exatamente, em vencer um campeonato mundial, mas na felicidade geral alicerçada em alto índice de desenvolvimento do país. Somente a educação pode assegurar, de modo peremptório, esse desenvolvimento. A educação sempre vence; o futebol nem sempre. A inclusão social se faz primordialmente por meio da educação, não unicamente por meio da bola: caminho sinuoso e estreito. O tijolo que alicerça a prosperidade de uma grande nação não se chama bola, mas livro. “Um país se faz com homens e livros”. A bola não pode ter primazia sobre os livros. Os livros darão aos brasileiros todas as oportunidades, inclusive de poderem comprar ingressos e não apenas permanecerem do lado de fora dos estádios olhando os turistas estrangeiros adentrarem, frajolas, entoando cantos efusivos, alguns flertando com Vinicius: ”Olha que coisa mais linda mais cheia de graça... que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar”.
Agora que o antitérmico germânico fez baixar o estado febril da exaltação futebolística brasileira, deixemos que a atonia da derrota se transforme em assomo de esperança por uma prosperidade nacional demarcada não pela bola, esta pode bambolear, murchar, mas esteada nas colunas inexoráveis da educação. Quanto mais conhecíveis e atraentes forem os caminhos das escolas tanto mais incognoscíveis serão os caminhos dos presídios. Preferível ser derrotado no futebol a ter que ser campeão de violência urbana e de falta de saúde pública para todos. Que as forças do povo se aglutinem não apenas em prol do futebol, mas, principalmente, para que a educação brasileira prospere em messe, se fortaleça cada vez mais. Quando a obrigação com a educação atingir o patamar de devoção em que chegou o futebol, ninguém mais irá maldizer a escuridão. Nessa ocasião até o insigne compositor Waldeck, o “Gordurinha” irá refestelar-se e repetir para os seus colegas lá do assento sobreceleste o que lhe sucedera na terra: “eu perdi a mocidade com os pés sujo de lama, eu fiquei analfabeto, mas meu fio criou fama”.
O excesso de luz que sobeja no futebol, míngua na educação: que redime muito mais e enseja prêmios nobeis. Pena que o país, que se notabilizou pelo futebol e carnaval, ainda não tenha sido laureado com tamanha comenda. O futebol por vezes faz parecer que a bola é a “Estatua da Liberdade” brasileira, mas a verdadeira liberdade, em forma de caneta, somente as escolas podem modelar mediante o uso de matéria prima intangível.
Que os acessos de delírio e sonhos febris que acometem o futebol possam infectar a educação, pois assim a nacionalidade brasileira poderá engalanar-se com a taça de maior distinção honorífica, o NOBEL.

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