OS VELHOS CASARÕES DE CAMPO MAIOR
Elmar Carvalho
Aconteceu no sábado a palestra do arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho sobre a preservação dos vetustos solares campomaiorenses. Além de João Alves Filho, presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE, veio de Campo Maior expressiva comitiva, da qual faziam parte vários acadêmicos do sodalício da Terra dos Carnaubais. Entre outros conterrâneos, que a minha memória registra, estavam presentes as escritoras e professoras universitárias Lisete Napoleão e Áurea Paz Pinheiro, João Antônio Aragão, o médico José Luís da Paz, o musicista José Wagner Brasil, o cantor e compositor Raimundo José Cardoso de Brito (Cardosinho), poeta Halan Silva, professora e escritora Ana Maria Cunha e o professor Raimundo Nonato Monteiro de Santana, membro da Academia Piauiense de Letras e ex-prefeito de sua terra natal, além deste diarista.
O conferencista é, atualmente, uma das maiores autoridades sobre o patrimônio arquitetônico do Piauí, tanto pelo seu conhecimento histórico, antropológico e sociológico, como pelo conhecimento técnico dessas construções. Olavo passou mais de duas décadas pesquisando, visitando sítios, fazendo fotografias, empreendendo estudos comparativos para escrever o seu excelente livro “Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy”, que arrebatou importante premiação nacional, e que também pode ser tido como um belo álbum de arte, que nos proporciona agradável viagem no tempo, no espaço e na história da arquitetura piauiense.
Ao vergastar as demolições, Olavo demonstrou que, muitas vezes, conservar apenas a fachada externa está muito longe de preservar a cultura, a história, os costumes, as sociabilidades do que representavam esses velhos solares e sobrados. Na parte interna de muitos deles, existiam pátio, varandas, vestíbulos, caramanchões e outras peças, que mostram como a vida se desenrolava na época. Serviam para diferentes modos de estar e receber. Algumas dessas peças e construções se prestavam a preservar a intimidade da casa, outras eram exclusivamente ornamentais, outras eram apenas para fruição prazerosa, enquanto algumas eram somente utilitárias. Um caramanchão e um pátio, por exemplo, bem poderiam servir para uma conversa à lua cheia, para uma confraternização festiva, para um sarau lítero-musical ou para um simples carteado.
Sua notável palestra foi ilustrada com belas fotografias, exibidas através de data-show. Elas mostravam os detalhes arquitetônicos sobre os quais o palestrante discorria. Na parte histórica, em que Olavo reportou-se a importantes edificações já demolidas, algumas pelo tempo e pelas intempéries, mas sobretudo pela ação humana, seja de forma irresponsável e deliberada, seja por pura ganância, seja por inocente ignorância histórica, artística e sociológica. As fotografias ilustravam e tentavam preencher essas lacunas, que ainda mais se acentuavam. As fotos, em muitos casos, traziam belas e pertinentes legendas, muitas da lavra do poeta Odylo Costa, filho, que foi casado com uma campomaiorense, parenta do conferencista. Muitos desses prédios não passam, hoje, de mera “fotografia na parede” como disse outro bardo; outros, sequer, tiveram essa sorte.
Ao término da palestra e da exibição dos eslaides, o presidente da Academia Piauense de Letras, Reginaldo Miranda, compôs a mesa, para emissão de alguns depoimentos, ao tempo em que permitiu a formulação de perguntas. Além dele, compuseram a mesa os presidentes das Academias Campomaiorense e do Vale do Longá, respectivamente, o historiador João Alves Filho e o médico Itamar Abreu Costa, o conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Luiz Phelipe Andrés, que elaborou o relatório sobre os tombamentos de Oeiras e Piracuruca, a superintendente do órgão no Piauí, Claudiana dos Anjos, Olavo Pereira da Silva Filho e eu, na qualidade de campomaiorense e membro da APL.
Todos os membros da mesa fizeram uso da palavra, enaltecendo a palestra e o patrimônio histórico e arquitetônico de Campo Maior. O Cardosinho, quase como se fora em um aboio estilizado, fez ecoar o vocábulo maior do topônimo Campo Maior, no seu refrão melódico, que parecia se espraiar nas campinas formosas, atapetadas de babugem, flores do campo e capim mimoso. Não se pode negar, o velho rincão estava presente, através da palestra, das imagens fotográficas, dos depoimentos, dos questionamentos e de seus filhos, que marcaram presença.
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