Ainda ecoa pelo país afora, sobretudo nos meios urbanos, a retumbante derrota
da seleção canarinho para os alemães. A derrota — que ocasionou sentimentos de tristeza,
indignação e fez prantear a muitos — chegou a ser adjetivada por alguns como assombrosa:
colisão entre feitos do passado e o fracasso do presente cuja avaria principal consistiu
em murchar não apenas a bola, mas o ufanismo nacional.
Aos que,
movidos pela paixão do futebol, prantearam a derrota do seleto time, ressalto que
neste Brasil, recheado de brasis, há razões muito maiores para estear, senão o
pranto, a indignação profunda. Evidentemente refiro-me à indignação daqueles
que não pensam apenas em si, que não pensam apenas neste ou naquele esporte, mas
no país como um todo. Essas razões não precisam ser elencadas de modo cabal. Basta
olhar o diário da TV: violência urbana demarcada pela pena de morte decretada
pelos celerados; a deplorável situação dos hospitais públicos; o transporte,
nas grandes metrópoles, onde os trabalhadores são submetidos ao
calvário de viajar, por longas horas, em trens e ônibus sucateados, comprimidos
aos moldes de vagões boiadeiros.
No “país do futebol”, o
orgulho maior de ser brasileiro não está, exatamente, em vencer um campeonato
mundial, mas na felicidade geral alicerçada em alto índice de desenvolvimento
do país. Somente a educação pode assegurar, de modo peremptório, esse
desenvolvimento. A educação sempre vence; o futebol nem sempre. A inclusão
social se faz primordialmente por meio da educação, não unicamente por meio da
bola: caminho sinuoso e estreito. O tijolo que alicerça a prosperidade de uma
grande nação não se chama bola, mas livro. “Um país se faz com homens e
livros”. A bola não pode ter primazia sobre os livros. Os livros darão
aos brasileiros todas as oportunidades, inclusive de poderem comprar ingressos
e não apenas permanecerem do lado de fora dos estádios olhando os turistas
estrangeiros adentrarem, frajolas, entoando cantos efusivos, alguns flertando com
Vinicius: ”Olha que coisa mais linda mais cheia de graça... que vem e que passa num
doce balanço a caminho do mar”.
Agora que o antitérmico
germânico fez baixar o estado febril da exaltação futebolística brasileira, deixemos
que a atonia da derrota se transforme em assomo de esperança por uma
prosperidade nacional demarcada não pela bola, esta pode bambolear, murchar, mas
esteada nas colunas inexoráveis da educação. Quanto mais conhecíveis e
atraentes forem os caminhos das escolas tanto mais incognoscíveis serão os
caminhos dos presídios. Preferível ser derrotado no futebol a ter que ser
campeão de violência urbana e de falta de saúde pública para todos. Que as
forças do povo se aglutinem não apenas em prol do futebol, mas, principalmente,
para que a educação brasileira prospere em messe, se fortaleça cada vez mais. Quando a obrigação com a educação
atingir o patamar de devoção em que chegou
o futebol, ninguém mais irá maldizer a escuridão. Nessa ocasião até o insigne
compositor Waldeck, o “Gordurinha” irá refestelar-se e repetir para os seus
colegas lá do assento sobreceleste o que lhe sucedera na terra: “eu
perdi a mocidade com os pés sujo de lama, eu fiquei analfabeto, mas meu fio
criou fama”.
O excesso de luz que sobeja
no futebol, míngua na educação: que redime muito mais e enseja prêmios nobeis.
Pena que o país, que se notabilizou pelo futebol e carnaval, ainda não tenha
sido laureado com tamanha comenda. O futebol por vezes faz parecer que a bola é
a “Estatua da Liberdade” brasileira, mas a verdadeira liberdade, em forma de
caneta, somente as escolas podem modelar mediante o uso de matéria prima
intangível.
Que os acessos de delírio e
sonhos febris que acometem o futebol possam infectar a educação, pois assim a
nacionalidade brasileira poderá engalanar-se com a taça de maior distinção
honorífica, o NOBEL.
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