Que a
conduta ilícita careça de sanção, (para que não se perca o valor da
pedagogia), isso é incontroverso, é unanimidade na opinião pública.
Porém, gostaria de começar romantizando esse tema, imprimir-lhe um
caráter fantasioso, utópico. Pitadas de utopias são bem-vindas, é
tempero que quebra o cotidiano, colore a ortodoxia. As utopias, que dão
sustentação aos sonhos, moram no reservatório secreto da imaginação e
anseiam por escapulir. Sendo assim, que escapulam; se comprazam nos
efeitos dos seus delírios, das suas pregações absurdas, inexequíveis.
Reflexionemos:
se o Criador decidiu apor o carimbo da liberdade à testa das suas
criaturas, conseguintemente concedeu-lhes gaiola do tamanho da
imensidade. Desse modo, a nenhum mortal assiste prerrogativa para
reformar essa decisão; é cláusula pétrea, legislada no plano celestial.
Querer-se alterar embaixo o que veio do ALTO é o mesmo que uma
autoridade de hierarquia inferior exautorar decisão de hierarquia
superior. Portanto, nenhum ser, com ou sem o dom da fala, deveria ser
privado da sua liberdade. Tal qual a água, o oxigênio e o calor do sol, a
liberdade (igualitária, socialista), é legado do plano superior: Ainda
que a liberdade exprima dádiva do Criador, a cada instante assiste-se o
roubo dessa liberdade: humanos encaminhados aos presídios; aves
encerradas em gaiolas do tamanho da casca de noz; animais supliciados, e
por ai além. Quando isso ocorre os sinos, — portadores de queixas —,
repenicam a Deus anunciando o arbítrio; só ELE os escuta. Assim como a
rua começa onde termina o caminho, a liberdade só deveria terminar onde
começasse a morte. A par disso fica a pergunta: por que a espécie humana
se arvora
em privar da liberdade seus semelhantes e outros
seres? Enquanto se esquadrinha uma resposta ponho minha nave ao chão,
passo do mundo ficcional à crua realidade das normas humanas; é mais
fácil discorrer sobre pensamentos filosóficos que pô-los em prática.
Tudo
bem que as condutas delitivas não podem ser indultadas, aceitas
impunemente; infratores hão de submeter-se à apuração de
responsabilidades. Porém, não custa inquirir: se as práticas ilícitas
cortejam a todas as camadas sociais por que as desconfianças recaem
pesadamente sobre os representantes da academia da miséria? Por que a
superstição de que não se pode poupar acrimônia aos delitos da favela
enquanto os do palácio podem ser emolidos? Por que os presídios — que se
propõem a lavar, relavar e enxaguar as culpas, reformar a moral dos
culpados, mas que não passam de formidáveis obras de destruição,
faculdades de perdição e de degenerescências — arrebanham
prioritariamente os que personificam o monturo, a excrescência social,
pobres, (analfabetos, malsãos, minados por enfermidades e densa
ignorância), que infestam as detenções, enquanto a fidalguia se protege
atrás de recursos protelatórios? Enquanto os delinquentes, sem nomeada,
empuxados ao delito sob o incentivo da miséria, descansam como hóspedes
nos aposentos da cloaca do crime, as ninhadas de filhos vão ficando para
trás, ao desamparo, custodiadas pela indigência, na fraternidade de
quanto padeçam de igual flagelo. Essa manada de neófitos — fazendo mau
uso da liberdade, incorrendo em faltas, desregrando, evoluindo nas
lições dos vícios — brevemente concorrerá para engrossas as fileiras da
população carcerária. A circunstância, concausa, faz expandir o crime;
haja imposto para presidiar o País.
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