Falar sobre as mulheres é
enunciar o que há de mais sagrado, é referir-se às mães de um modo geral e,
mais precisamente, à Maria Virgem, mãe de Jesus.
As mulheres têm sido fonte
de inspiração de escritores, cantadores e poetas que lhe exaltam os méritos e
os deméritos. Ora são deusas, ora anjos de dedicação e renúncia, ora, no dizer
do poeta Wanderley Pereira, “Evas sempre prontas a complicar a vida dos seus
Adões”.
Mas o
valor das mulheres, de mistérios insondáveis, não vem por outrem, mas por elas mesmas,
pela sua distinção pessoal, pela serenidade, pela competência, pela coragem, (ainda
mais quando em defesa da prole), pela compreensão, pelo companheirismo. As mulheres
são a homenagem de Deus ao amor. Quando mães, instintivamente se esmeram em
proteger os filhos, orientá-los, modelá-los na virtude, nas lições do
catecismo. No dizer do poeta João Paraibano, as mães deveriam ter dois corações:
um para si, o outro para bater pelos filhos. Até mesmo quando impõem castigo à
sua prole é possível sentir-se o lado amoroso das mães.
Se é verdade
que o mundo seria mais humano se fosse literalmente evangelizado, verdade maior
é dizer que o mundo seria mais justo, mais útil e harmônico se fosse governado
pelas mulheres. O poder, que por vezes se presta a tiranizar os homens, nas
mãos das mulheres se prestaria à equidade, à concórdia, à benignidade. Vítima
de discriminações e muitas vezes alijadas de direitos essenciais, das mulheres
muito se tem exigido. Por exemplo, no decorrer dos séculos, acentuadamente
durante o primarismo colonial, a elas se impôs todo um código de ética nas
relações com o sexo viril. Nas comunidades de populações rarefeitas do interior
do Brasil o culto à virgindade foi e continua sendo virtude das mais prezadas.
Nisto o sertanejo não transige; do contrário melindra o pudor. Esse culto à
virgindade, segundo o escritor Sylvio Rabello, é talvez uma forma residual da
adoração à Maria Virgem. Também, nem
sempre o trabalho da mulher, eventualmente mais árduo do que o dos homens, é
devidamente considerado porque às vezes não é medido com a régua do dinheiro.
São as que vivem entregues às atividades caseiras ou lidas do campo. Na cidade
ou no campo, em nenhum dos seus múltiplos papeis as mulheres se descuidam das suas
obrigações; as fazem com inflamado zelo. Lastimosamente ainda são
expressivos, no Brasil e mundo afora, os escaninhos que ocultam a presença dos machistas
que — embrutecidos pela ação do seu instinto violento ou sádico — preferem
manter as suas mulheres sob o regime da subalternidade, da vassalagem ainda que
à custa de mandonismo intimidativo, de ameaças, e, não raro, violências
assombrosas.
Deixo de exaltar a celebração
ritualística do dia internacional da mulher, (quando a ela são ofertadas flores
e outros mimos), porque faz supor que apenas um dia calendário lhes serve de
ocasião às manifestações de apreço. Elas, que valem tanto quanto significam,
são dignas de mesuras no decorrer de todos os dias.
Na figura da parentela (genitora, esposa,
filha e irmãs) deste subscritor, saúdo todas as mulheres, desde as recentes às
anosas: as solteiras, as casadas e descasadas; as viúvas; as ricas e as assistidas
pela miséria; as felizes e as infelicitadas nos infortúnios que lhes coube em
sorte; as incrédulas e as crédulas que
se deixam enganar e escravizar; as que sucumbiram nas mãos dos cruéis uxoricidas;
as cientistas, doutoras, contramestras e operárias; as que, debalde, aguardam a
maternidade e as exaustas dos aborrecimentos
desta mesma maternidade; as religiosas e as leigas; as que
sonham com o himeneu e as que se frustraram com ele; as altivas e as que se prestam
à servidão consentida; as normais e as acometidas de desorganização psíquica. Que as
bênçãos divinas recaiam em messe sobre todas: as que se retiraram da vida
terreal, as que cumprem o seu fadário.
Mas não poderia pôr um ponto final
nestas singelas considerações sem reproduzir a sextilha do poeta Geraldo Amâncio
acerca da essencialidade da mulher.
“Sei que mulher tem defeito:
Maltrata, briga e ciúma;
Tem a mulher que atraiçoa;
Mulher que bebe e que fuma
Mas quer desgraçar a vida
Resolva ficar sem uma”
“sublima-se o homem na dedicação à
mulher”.
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