A avenida termina exatamente em cima dos trilhos da
antiga linha férrea que ligava Parnaíba a Teresina, num quarteirão fronteiro ao
colégio Marion Saraiva. Até hoje, conseguimos enxergar as últimas carnaúbas do
Velame. Ela começa na Praça da Prefeitura, ligadinha na famosa rua Santo
Antônio.
Eu nem precisei fechar os olhos para recuperar os
detalhes desse cenário, pois a avenida não mudou muito. Ainda é praticamente a
mesma de anos atrás, quando andava por ela em cima de uma bicicleta, arrastando
um chinelo, ou calçando uma Conga azul-marinho. Comprava petecas no Seu Niuso,
revistas na Rev Som e cadernos na Toinha da gráfica. Os brinquedos eu adquiria,
ou só admirava, na loja do Seu Clóvis em frente a praça do Mercado. As mudanças
mais sentidas foi o fechamento das Casas Pernambucanas, da Cobal, Gráfica
Mendes e do Supermercado Paz, que atualmente se resume a um corredor com venda
de produtos para a umbanda.
Seu nome foi uma homenagem dada pelo prefeito Oscar
Castelo Branco Filho ao advogado campomaiorense Demerval Lobão Veras, que foi
deputado federal em 1950 e faleceu num acidente de carro no dia 04 de setembro
de 1958 durante campanha para o governo do Estado. Antes se chamava Avenida
Marechal Deodoro da Fonseca segundo os registros da Prefeitura.
Andar pelas suas calçadas requer delicadeza e atenção.
São todos os tipos de pisos, degraus, calçadas carcomidas, declives, buracos,
fiação emaranhada, manequins nas portas das lojas e caixas de som. Daria minha
vida para saber se essa poluição sonora faz o cliente entrar e comprar. Virou
folclore esse barulho chato e brega.
No passeio central, suas várias carnaúbas não amenizam
em nada a quentura dos meses tórridos e ainda é impossível andar: seja pela
largura, seja pela altura do passeio.
Vagas para estacionar são inexistentes. O estacionamento
do supermercado Carvalho é o que ainda quebra o galho de muita gente. Quem anda
de moto tem a opção de cobrir o banco com papelão oferecidos pelos flanelinhas
na altura da Caixa Econômica. Apesar de existir dois estacionamentos, a procura
é pouca, a grana é curta.
Olhando do alto, numa espécie de vista aérea, parece
que todas as ruas correm para a Demerval Lobão. É o princípio e o fim do centro
de tudo, o palco das compras, das caminhadas políticas, das manifestações, das
brigas de trânsito, dos assaltos, da alegria de comprar.
Sua numeração vai do número 1 (loja de calçados do Sr.
Mamédio) até o número 1518, residência do filho do falecido Casaca.
Ao longo dos seus 700 metros, encontramos 12
farmácias. A primeira, no sentido de quem vai para a BR, fica em frente a praça
da Prefeitura. É a recentíssima farmácia Dos Heróis. Depois vem a Campo
Maior(do Netinho), farmácia do Trabalhador com suas vitaminas, Pague Menos,
Extrafarma, Globo, Chico Leite, a do seu Kelson, Zero Hora(em frente ao mercado),Sao
Judas Tadeu e por última, a outra Zero Hora, já na esquina da rodovia 343. Da
professora Dona Maria Alice só ficou a saudade.
São duas lotéricas eternamente lotadas, BNB, Caixa,
Bradesco, uma financeira de empréstimo e o onipresente Armazém Paraíba que foi
inaugurado em 15 de junho de 1981. São várias sapatarias, óticas, dois postos
de combustíveis(o Campo Maior em frente a Prefeitura e o Garcia já na esquina
da BR). Temos a ruína do que foi as Casas Marc Jacob, açougues, vendas de
galetos, material para construção, peças para carros,óticas e perdida nesse
caos, uma inacreditável livraria de nome Santa Bárbara. Quase ligado a ela, tem
a loja do Sr. Chico Queiroz que não vende nada. Ele passa as manhãs sentado
olhando o movimento ou puxando conversa com os transeuntes que passam
apressados. Há um cabaré em cima da farmácia do Chico Leite. No período de
pagamento as prostitutas assediam os aposentados, jogando charme, assobios,
gargalhadas e promessas de muito prazer. Muitos sobem as escadas e não é raro a
polícia aparecer de vez em quando. De longe se ouve o som do Cabral que sai das
janelas.
Já houve banco explodido por dinamite, batidas de
carros e motos e carreatas de carnaval. O que eu nunca vi mesmo foi um desfile
de sete de setembro e uma procissão de Santo Antônio. Nessa crise, é um abre e
fecha de lojas sem parar. Roupas e calçados viraram uma praga e oportunismo de
confecções vendidas quase no quilo. A do Chiquito segue invicta e o prédio novo
ficou belíssimo. Comprar botões, agulhas e elástico é no Julinho, roupas para
batizado e chambres é na Dona Helena, que desde 1981 revende o que é produzido
no Ceará. Presentes para casamento e qualquer outra coisa é na Dona Pureza. Sua
loja é uma das mais antigas em funcionamento. Foi inaugurada em 1973 e se
mantém até hoje,sem nunca ter que dar desconto para ninguém. Tem a sapataria do
Zé do Bombom com calçados de todas as épocas e modas.
O Boticário mudou de lugar. O aroma dos seus perfumes
se confunde com o cheiro de gasolina que vem do posto vizinho, que já foi
assaltado várias vezes. O Bandeira, que vende material de construção abriu
uma moderna loja depois do grande
incêndio que destruiu tudo em outubro de 2017.
Quem quiser comprar passagens aéreas têm uma lojinha
que faz tudo por você. Ela é minúscula, escura e fica ao lado da barbearia do
Luís. Enquanto se corta o cabelo, fazemos apostas no jogo do bicho e se
conversa sobre futebol.
Cada caminhada que faço pelas suas calçadas é um
passeio afetivo por Campo Maior, onde enxergo diferentes tipos de pessoas,
comerciantes e situações. A história da cidade passa ou já passou por ela.
Resta saber em qual de nossas lembranças ela foi importante, em qual momento o
tempo passou, fazendo a gente não esquecer dos que já morreram, dos que tiveram
a ousadia de montar seus negócios, receber clientes, fazer o dinheiro circular,
fazer a cidade crescer mais e mais.
P.S. comerciantes da Demerval Lobão que já faleceram.
Dona Severinha Milanês ( boutique)
Raimundo Lustosa de Melo (lojão que funcionou no local
que é o Armazém Paraíba hoje, e que depois inaugurou nova loja em frente ao
Domingos Bandeira)
Jaime da Paz ( tecidos)
Mario Frota (chapéus, facão, foice, corrente, cintos,
cordas)
Seu Moisés (anzol, cera, náilon para rede de pescar,
botão para jogo, pregos)
Joaquina ( farmácia)
Seu Vespa ( tecidos)
Seu Sales ( material de construção)
Sr. César/ Lúcia (material de construção)
Dona Maria Bandeira(armarinho ao lado da Miscelânea do
Juninho)
Seu Antônio Pedro (farmácia)
Gilberto Mendes Farias (gráfica e papelaria)
Cláudio (rev. som)
Raimundinho Lustosa (material de construção)
Luís Bodão Lustosa ( móveis)
Dona Lurdinha Lustosa (armarinho de botoes, rendas,
elásticos, etc…)
Seu Bandeira (casa das tintas)
Seu Monte (lanchonete e café Ideal em frente a
Prefeitura).
Seu Chico Padi e esposa (quitanda)
Kasaka ( oficina de carros)
Ademar ( loja cheiro e charme)
Seu Maurício dos Correios (armarinho)
Zé Macambira
Sr. Antonio da Paz( fundador do Supermercado Paz)
Obrigado a todos,
Sérgio Emiliano.
Natal/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário